Sumiço de abelhas preocupa

Sumiço de abelhas preocupa

Sumiço das abelhas preocupa
Jornal Estado de Minas – 25/05/2015
Além das pragas, os defensivos agrícolas podem ser responsáveis pelo extermínio de um importante aliado na produção agrícola: os animais polinizadores. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) ordenou que os fabricantes refaçam estudos para comprovar os efeitos de alguns tipos de agrotóxicos em abelhas, morcegos, borboletas e outros bichos. A suspeita é que os produtos sejam responsáveis pelo extermínio de colmeias.
O uso dos produtos era autorizado no país. Mas, com o registro de mortes repentinas de abelhas, o governo federal solicitou que fossem refeitos os estudos para comprovar o funcionamento das substâncias. Segundo o coordenador-geral de avaliação e controle de substâncias químicas e produtos perigosos do Ibama, Márcio Freitas, a reavaliação tem como objetivo identificar possíveis efeitos danosos aos insetos. É preciso identificar o teor de resíduos nas folhas, flores, pólen e o volume absorvido por abelhas e qual o grau de intoxicação.
De acordo com os resultados, os produtos podem ser vetados definitivamente. Os primeiros resultados foram insuficientes. Novas conclusões do processo são esperadas para o ano que vem. Outro problema, segundo Freitas, é que a toxicidade crônica pode resultar em desorientação da abelha. O inseto perde o rumo e não consegue retornar para a colmeia. O fenômeno é conhecido como síndrome do colapso das colônias. O problema também é letal. “Do ponto de vista da colmeia, a desorientação é ainda mais crítica”, afirma Freitas.
PROBLEMA MUNDIAL
A reavaliação do uso do Fipronil e do Neonicotinoide (inseticida derivado da nicotina) está em estudo em todo o mundo. A Itália vetou-os por dois anos. A interrogação quanto aos efeitos teve início depois da divulgação dos primeiros dados de morte de abelhas. No intervalo entre abril de 2014 e de 2015, o número de colmeias lá teve redução de 42%. O ano foi o segundo pior em termos de redução. No Brasil, o registro de novos produtos é vetado desde 2012 e a aplicação aérea é proibida na época da florada. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 5 mil colmeias de abelhas africanizadas foram exterminadas em São Paulo. “Ainda não temos uma conclusão. Pelos estudos, não foi possível caracterizar o agrotóxico como único fator crítico”, afirma Márcio Freitas.
Outros fatores podem contribuir para a mortandade, como as mudanças climáticas e os efeitos do desmatamento e da monocultura para o hábitat das abelhas. O coordenador-geral do projeto Bee or Not To Be, iniciativa criada pelo Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte em defesa das abelhas no Brasil, Daniel Malusá, afirma que estudos internacionais comprovam o nível tóxico do Fipronil para as abelhas. “É um problema muito grave. É preciso rever o uso indiscriminado desses produtos”, afirma.
Polinização essencial
O defensivo agrícola é usado para evitar ataques de pragas às plantações, permitindo assim aumentar a produtividade da agricultura. Paradoxalmente, alguns desses produtos podem ter efeito consideravelmente mais danoso no nível de produção. Isso porque, caso os estudos em andamento confirmem a toxicidade para os polinizadores, a morte dos animais pode atacar diretamente a quantidade de alimentos produzidos dada a dependência das abelhas na polinização, de extrema importância para o desenvolvimento de lavouras diversas.
Números do Ministério do Meio Ambiente mostram que 87,5% das espécies de plantas com flores dependem de polinizadores para geração de frutos e sementes sadios. O alerta é que o declínio no número de polinizadores pode levar à redução da produção de frutas, verduras e outros produtos agrícolas. No caso das frutas, abelhas e demais polinizadores são responsáveis por até 90% da polinização.
REFLEXO 
De olho no risco, o projeto Bee or Not To Be, iniciativa criada pelo Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte em defesa das abelhas no Brasil, criou a campanha “Sem abelha, sem alimento”. A proposta é mostrar que a morte dos polinizadores pode resultar na redução da produção de alimentos. “A polinização é tão importante quanto o sol, a água, o solo e os nutrientes. É preciso que seja entendida como tendo papel imprescindível na cadeia agrícola. Não adianta ter todos os outros elementos se não existir a abelhinha para levar o pólen”, afirma o coordenador-geral do projeto, Daniel Malusá. O projeto criou um aplicativo para registrar todos os casos de morte de abelha no Brasil (Be alert).
Segundo o projeto Bee or Not To Be, no lugar do uso desses defensivos agrícolas, a adoção de boas práticas pode amenizar os impactos. Entre as possíveis medidas a serem adotadas estão a conservação de áreas naturais, mantendo a vegetação nativa próxima à área de cultivo; o plantio de plantas atrativas aos polinizadores nas proximidades da lavoura; revolver o mínimo possível o solo, pois algumas abelhas fazem seus ninhos na terra, e não aplicar defensivos nos horários de visita dos polinizadores (geralmente pela manhã).
Mel cobiçado por outros países
Apesar de a demanda nacional ser superior à oferta, a procura estrangeira pelo mel brasileiro resultou na exportação de 25,3 mil toneladas do produto in natura no ano passado, além de outros derivados. O montante é 57,1% superior ao volume exportado em 2013, ano em que a mortandade de colmeias impactou fortemente a produção no Brasil.
Principal produtor mineiro, José Renato Fonseca, diretor do Mel Santa Barbára, tem 1 mil colmeias. Ao todo, são 60 milhões de abelhas que produzem 1,2 mil quilos de mel por dia. Devido à presença de eucalipto em um terço do município que dá o nome ao apiário, a empresa aproveita a floração da madeira para a colocação de colmeias. O mel é transformado em mais de 100 tipos de produtos, afirma Fonseca, entre os quais própolis, geleia real e suplemento alimentar.
A estratégia do produtor Mazio Sérvulo Magalhães é diferente. Ele mantém apiários em vários municípios (Nova Lima, Caeté, São Gonçalo do Rio Abaixo e Barão de Cocais). A explicação é que é recomendado manter distância de seis quilômetros entre os apiários, sendo cada um deles com 15 a 20 colmeias. Outros fatores precisam ser considerados ao se iniciar um investimento no setor, como o tipo de florada da região e a presença de vegetação nativa.
Algumas flores dão pólen em abundância, como o coqueiro e o canudo-de-pito; outras são fortes em mel, como eucalipto, cipó-uva e laranjeira, enquanto outras mesclam os dois em quantidade razoável. A escolha tem que ser feita de acordo com o tipo de produto que se quer comercializar e o público-alvo. Segundo Magalhães, de panificadoras a farmácias, há demanda diversificada para os produtores de mel. E mais: o produto é bastante procurado no exterior. Isso porque as abelhas do Brasil são africanizadas, o que aumenta a resistência. Lá fora, as abelhas europeias são mais suscetíveis a doenças, o que implica uso de antibióticos e produtos químicos. “O mel brasileiro não tem contaminação de nenhum tipo”, afirma Magalhães.

Artigo  original: http://www.sistemafaemg.org.br/Noticia.aspx?Code=8521&Portal=1&PortalNews=1&ParentCode=139&ParentPath=None&ContentVersion=R

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