Agrotóxicos estão prejudicando apicultura em Japaratuba – SE

Agrotóxicos estão prejudicando apicultura em Japaratuba – SE

Apicultores da cidade de Japaratuba falam em queda de 80 % da produção.

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Os agrotóxicos da usina de cana-de-açúcar Campo Lindo estão prejudicando a produção da apicultura em Japaratuba. É o que acusa a Associação de Apicultores e Meliponicultores do Arranjo Produtivo do Vale do Japaratuba (Apivale). Eles falam que os agrotóxicos lançados pela usina Campo Lindo estão matando as abelhas do local e prejudicando a produção apicultora na região.

De acordo com Jaime Ribeiro, presidente da Apivale, a situação já acontece há anos. “Já são quatro anos que estamos tendo prejuízo com a mortalidade das abelhas. A cada ano aumenta. O ano passando foi o ponto culminante pra gente, porque foi altíssima a mortalidade das abelhas”, disse o apicultor.

De acordo com a apicultora e associada Rosivalda dos Santos, nos últimos quatro anos, houve queda de 80% na produção dos apiários de Japaratuba. “Antes a gente conseguia colher duas toneladas. Ano passado não colhemos nem meia tonelada. As abelhas estão morrendo e estamos perdendo cada vez mais enxames”, falou Rosivalda.

A Apivale afirma que a Usina Campo Lindo já foi notificada sobre os problemas que os agrotóxicos estão causando na região. “Temos provas de que eles fizeram divulgação de que iriam utilizar o veneno. Inclusive, deram orientação para que o que a gente deveria fazer com as abelhas. Chegaram a falar ‘prendam suas abelhas’. No dia que eles começaram a aplicar, no outro dia a gente já notou a mortalidade”, disse Jaime.

“Eles estão burlando a lei. Já houve uma reunião com o Ministério do Trabalho e eles (Usina) afirmaram que têm autorização para aplicar, mas o estado não está fiscalizando essa aplicação”, completou. Segundo Jaime, o responsável do governo do Estado para a fiscalização é o Ministério da Agricultura.

São cerca de sessenta produtores na região de Japaratuba. E Jaime explica que eles esperam que a situação mude. “Nós estamos tentando ver, porque tem algumas regras na lei que dizem que não é permitido. E com isso a gente vai olhar se tem como impedir que eles usem o veneno nas proximidades dos apiários. Se nada for feito, teremos que entrar com uma ação judicial”, contou o presidente.

Especialista

De acordo com a professora de Ciências Biológicas, Katia Peres Gramacho, a situação das abelhas em Japaratuba é realmente delicada. A professora acompanha a situação dos apicultores em Japaratuba e tem experiência na área de apicultura e melhoramento genético com abelhas, e conta que milhares de abelhas morreram no local. Segundo Katia, cerca de 180 colmeias foram perdidas e ela acredita que o fato se deve à aplicação de agrotóxicos.

A professora fala que a mortandade das abelhas prejudica os produtores da região. “Isso afeta diretamente na produção. Se não tem enxames, não tem produção de mel e alimentos. Além disso, afeta também a produção de frutas, grãos devido à falta dos polinizadores (das abelhas)”,  falou Katia.

A professora explica que o custo da perda de um enxame é alto, em torno de R$ 200/enxame. E as consequências posteriores são ainda mais graves. “As perdas são enormes e envolve vários setores, da natureza até o homem”, explicou Katia.

Para a professora, a aplicação de agrotóxicos deve ser interrompida. “Tem que parar com a aplicação de agrotóxicos. E, se possível, tirar as colméias do raio de ação dos agrotóxicos, o que não é fácil”, falou a professora.

Fiscalização

O Portal Infonet entrou em contato com a Comissão Estadual de Agrotóxicos e, de acordo com a presidente Aparecida Andrade, o Ministério Público do Trabalho (MPT), através do procurador Manoel Adroado Bispo, está responsável pela fiscalização das irregularidades das usinas que atuam no estado de Sergipe.

A Comissão faz parte da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro). Aparecida explicou que a Emdagro também faz esse processo de fiscalização, mas que o MPT está fazendo um trabalho mais completo no sentido de encontrar todo tipo de irregularidade nas usinas, inclusive o uso proibido de agrotóxicos.

“O MPT já está acompanhando a situação não só da Usina Campo Lindo, mas de todas as usinas em Sergipe. Está havendo fiscalização e está sendo investigada a aplicação dos agrotóxicos em Japaratuba”, explicou a presidente da comissão.

O reportagem do Portal Infonet procurou informações sobre a denúncia com o procurador Adroaldo, mas não foi possível encontrá-lo no MPT no horário em questão. Também houve tentativa de contato com os responsáveis da Usina Campo Lindo, mas não tivemos êxito. O Portal Infonet está à disposição pelo email jornalismo@infonet.com.br.

Por Helena Sader e Raquel Almeida

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