Empresas do setor agroquímico e pesquisadores criam associação A.B.E.L.H.A

Empresas do setor agroquímico e pesquisadores criam associação A.B.E.L.H.A

Algumas das maiores empresas de agroquímicos do mundo, em conjunto com Sindiveg, Andef, entidades do setor produtivo agrícola e pesquisadores, oficialmente anunciaram, no dia 07/04/15, a criação da Associação A.B.E.L.H.A, originária da “necessidade de diálogo com as pessoas envolvidas com o tema das abelhas”.

O intuito é “criar uma rede colaborativa, olhando toda a cadeia de produção, polinização e o produtos das abelhas.” Ainda segundo Ana Lúcia Assad, diretora executiva da A.B.E.L.H.A, em entrevista para a Revista Época reproduzida abaixo: “a associação está reunindo um conselho de pesquisadores (que já possui 15 integrantes) e prepara um edital para financiar pesquisas na área.”

Este movimento, que reúne sob uma única associação, empresas com o poder econômico equivalente ao de alguns países, e que no Brasil disputam um mercado avaliado em cerca de US$ 10 bilhões (desde 2012 nosso país tornou-se o maior consumidor de agrotóxicos no mundo!), demonstra a importância que o tema do declínio dos polinizadores pode desempenhar neste cenário. É de se lembrar que a Europa e a América do Norte já pressionam o mercado destas indústrias, com medidas que ora banem ou restringem os usos de determinadas categorias de pesticidas (em particular os sistêmicos, conhecidos como neonicotinoides) pelos efeitos  que provocam sobre os polinizadores. Um tema que também põe luz sobre os processos de reavaliação do uso destas categorias de pesticidas no Brasil, em curso no Ibama, e com previsão para deliberações neste ano de 2015.


Consideramos obviamente legítima a criação desta associação, uma vez que, em sua gênese, representa os interesses de um setor diretamente relacionado com o debate das causas, no mundo todo, do CCD, morte das abelhas ou declínio dos polinizadores. O agronegócio, por sua vez, precisa dos serviços ecossistêmicos de polinização oferecidos de forma insubstituível pelos diversos polinizadores, em particular de seus principais agentes, as abelhas. Os serviços de polinização são avaliados em 10% do PIB agrícola e representam ganhos de qualidade e produtividade nas culturas.  Por assim dizer, é esse o ponto de convergência, o interesse comum. 

Assim, se o intuito desta Associação e seus membros for o de conscientizar as pessoas para a importância das abelhas e sua atividade de polinização, melhorar as práticas no campo,  difundir a apicultura e a meliponicultura como atividades imprescindíveis da cadeia produtiva agrícola, empenhar esforços para desenvolver fórmulas e moléculas não prejudiciais aos polinizadores (ao mesmo tempo que eficazes no combate necessário às pragas),  fomentar novas soluções para o controle biológico de pragas, produzir conhecimento isento, e, em última instância, combater o grave problema da mortalidade das abelhas, protegendo-as, a iniciativa é bem-vinda.

Veja abaixo a reportagem do site da Revista Época, que anuncia a criação da Associação.

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Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/04/empresas-e-cientistas-criam-associacao-para-pesquisar-abelhas.html

ALEXANDRE MANSUR

07/04/2015 08h50 –

Empresas e cientistas criam associação para pesquisar as abelhas

A Associação para Estudo das Abelhas, com a sigla de Abelha, pretende financiar e divulgar estudos sobre o papel polinizador e a produção do inseto

Grandes empresas de tecnologia agrícola se associaram a um grupo de pesquisadores para pesquisar a saúde das colméias do Brasil. O grupo criou a Associação Brasileira de Estudo de Abelhas (cuja sigla é Abelha). “A instituição nasceu da necessidade de diálogo entre as pessoas envolvidas com o tema das abelhas”, diz Ana Lúcia Assad, diretora da entidade. Ana Lúcia é irmã de Eduardo Assad, da Embrapa, um dos maiores pesquisadores de clima do país. Ela assumiu a Abelha, que nasceu a partir de uma iniciativa da empresa Syngenta, fabricante de sementes, fertilizantes e defensivos. Depois, entraram as empresas Bayer e Basf. Juntas, elas procuraram alguns pesquisadores ligados ao assunto e fundaram a Abelha. Agora, a associação está montando um conselho de pesquisadores. “Já temos 15 integrantes”, diz Ana Lúcia.

Segundo Ana Lúcia, o objetivo da Abelha é promover e disseminar o conhecimento científico sobre a ecologia das abelhas e sobre a apicultura. “A estratégia é criar uma rede colaborativa. Nossa proposta é olhar toda a cadeia de produção, da polinização até os produtos das abelhas”, diz. A Abelha lança hoje um livro com compilações de estudos sobre o papel polinizador dos insetos fazedores de mel. O livro sai em versão digital no site da Abelha. Ana Lúcia diz que a Abelha está preparando um edital para financiar pesquisas na área.

Um dos mistérios em relação às abelhas são as ameaças ambientais que elas enfrentam. Há alguns anos, cientistas vem relatando casos e números apavorantes de desaparecimento e mortalidade de abelhas nos Estados Unidos e na Europa, com alguns casos no Brasil. Esse fenômeno, chamado de síndrome de colapso das colméias (CCD na sigla em inglês) é um mistério para a ciência, diz entomologista Décio Gazzoni, da Embrapa Soja, e um dos conselheiros da Abelha.  “O apicultor pode perder 60% das colméias em um ano. E recupera no ano seguinte. É difícil descobrir as causas do ocorrido”, afirma. Há uma lista de possíves responsáveis pelo desaparecimento e morte das abelhas. “Podem ser ácaros ou pragas. Ou perda de habitat, como o desaparecimento das florestas”, diz. Ou mesmo uso inadequado de químicos na agricultura. “Aparentemente uma causa sozinha não pode ser apontada”, diz Décio

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Segundo Décio, há ciclos de mortalidades assim relatados pela ciência nos últimos 170 anos. Ocorrem a cada cerca de 15 ou 10 anos. O pico da última onda de CCD foi entre 2008 e 2010. Desde então, segundo Décio, os episódios diminuíram. Um dos problemas para investigar CCD é seguir as abelhas atingidas, que muitas vezes desaparecem na floresta. Agora, os cientistas estão preparando radiotransmissores com GPS microscópicos. Eles são colados às costas das abelhas. “São muito leves. Têm 2% do peso da abelha”, diz Décio. Com esses aparelhos, será possível seguir as abelhas atingidas pela síndrome e fazer biópsias para identificar a causa da morte.

Ana Lúcia diz que o interesse das empresas fundadoras e financiadoras da Abelha não terão interferência no resultado das pesquisas científicas feitas ou divulgadas pela associação. “Se as pesquisas indicarem alguma relação entre produtos químicos e mortalidade de abelhas, eles serão divulgados. Os resultados sempre serão publicados”, afirma. “Os estudos apontam uma sinergia de fatores que afetam as abelhas, como clima e destruição de habitats. Mas não haverá nenhum tipo de controle ou interesse comercial. Estamos aqui para divulgar informações científicas”, diz Ana Lúcia.

A saúde das abelhas não importa apenas para quem consome mel, própolis ou geléia real. É fundamental para a agricultura. Sem o serviço de polinização das abelhas, teríamos dificuldade para manter a produção de alimentos e preservar as florestas. Entre 70% e 75% das culturas agrícolas dependem em algum grau da polinização por animais. Abelha é o grupo mais importante desses polinizadores. Frutas como maracujá, abacate, amora, mamão, laranja, maçã, pêssego e pêra dependem muito das abelhas. Em alguns casos, como maracujá, sem polinização das abelhas, não há produção alguma. Em outros casos, como dos morangos, se não houver abelha para polinizar o cultivo, o fruto fica deformado e sem valor comercial.

Mais sobre a Associação A.B.E.L.H.A, acesse: www.abelha.org.br
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